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O Sentido Existencial do Medo

 

Você sabia que o medo acompanha o homem desde a antiguidade, e que ele libera em seu cérebro os mesmos mecanismos quando está curioso e querendo investigar algo? Mas o que diferencia isto?

  • O contexto histórico em que vivemos.
  • O que conhecemos e o que não conhecemos.
  • O sentimento de impotência diante do desconhecido nos paralisa para enfrentar o que estamos experienciando em nossas vidas.
  • O sentimento de curiosidade diante do desconhecido nos lança para novas perspectivas diante da vida.

      O quadro abaixo nos mostra a “História do Medo”.

      Veja quais foram os principais medos que acompanharam o homem.

 

 

Antiguidade

Idade Média

Século XIV à XVIII

 

 

 

A escuridão

O diabo

Revoltas populares

Animais predadores

Apocalipse

Guerras religiosas

Fenômenos da natureza

A peste negra

Bruxas

(tempestades, cometas

Os Vickings

Judeus

Eclipses)

O mar

Fantasmas

 

Fantasmas

O diabo

 

Turcos e os Mouros

Apocalipse

 

Bruxas

O paganismo

 

Os cavaleiros mercenários

 

 

 

 

Século XIX

Século XX e XXI

 

 

 

 

A tuberculose

A violência

 

A sífilis

Os governos totalitários

 

Fantasmas

Seres de outros planetas

 

Os vampiros

A AIDS e o Câncer

 

 

O terrorismo

 

 

A miséria e o desemprego

 

 

A Solidão

 

 

Armas Nucleares

 

 

 

 

   

                                            

A questão é, quando o medo se transforma em Fobia, ou melhor, Síndrome do Pânico, onde a pessoa passa a TER MEDO DE SENTIR MEDO, sendo caracterizado como um transtorno psicológico. Este é o foco de nossa discussão.

 

Você sabia que mais de 14% da população brasileira, ou seja, 20 milhões de pessoas declaram sofrer desta experiência? Estes são os dados estatísticos da medicina brasileira que atualmente se preocupa com esta questão, pois bioquimicamente conhece os processos que se instalam em nosso cérebro, mas ainda é um enigma.

 

Qual é o botão existencial que originariamente aciona o medo?

 

É desse movimento existencial que o método fenomenológico se ocupa para compreender, quais são os sentidos existenciais que se atrelam a essa manifestação que acomete 20 milhões de pessoas atingidas por esse transtorno em nosso país.

 

O medo pode desencadear a Fobia que é qualificada pelos psiquiatras como “Transtorno de Ansiedade”, segundo essa qualificação esse distúrbio provoca uma série de alterações físicas, nervosas e psicológicas. Esta experiência é legítima e só quem pode avaliar é aquele que a vivencia. O medo de se ter “Medo” pode gerar tremores pelo corpo, suores, taquicardia, angústia e em algumas situações pode levar a pessoa a desmaiar e desencadear “crises de pânico”, bem como paralisar a sua vida cotidiana podendo chegar a ponto de ter medo de sair de sua moradia.

 

Aqui no Brasil, a doença passou a ser conhecida a partir de 1996, quando então um grupo de cientistas brasileiros ao invés de “Síndrome do Pânico” a nomeou “Transtorno de Ansiedade”.

 

Segundo o relato das pessoas que passaram por esta experiência, denunciam que o Pânico acontece subitamente e violentamente, sem motivo real, concreto, paralisando ou pelo menos atrapalhando as atividades de sua vida diária. Ações como: dirigir, andar de avião, elevador, medo de lugares altos ou fechados, ou muito tumultuados, barulhentos, medo do escuro excessivo, medo de dormir e não acordar na manhã seguinte são apenas uns dos exemplos que o ser humano experiência e não sabe porque.

 

É curioso saber que, o Conceito “Pânico”, foi originariamente estudado pela Mitologia Grega, com o Deus Pã, que foi uma criatura monstruosa e assustadora, pois sua figura física se caracterizava em metade homem e metade animal. Segundo o mito: Pã era tão feio que ao nascer fora rejeitado pelos próprios pais e então confinado a viver nas montanhas altas da Arcádia numa região montanhosa e primitiva da Grécia. Pã revoltado se divertia aparecendo subitamente assustando as pessoas, causando-lhes muito medo. Geralmente ele aparecia em lugares altos, nos amplos pastos e nas cavernas.

 

Muitos especialistas acreditam que a carga e a responsabilidade da vida moderna contribuem para o desencadeamento dessa experiência: - a violência, o estresse, as desigualdades e injustiças sociais, pressões internas, as perdas súbitas de parentes e amigos, as falências empresariais podem provocar ameaças. Abalam a estrutura existencial da pessoa, seu modo de agir, valorar e julgar suas relações no mundo que a afetam sensivelmente em seu cotidiano. Ela experiencia a Implosão do Pânico, dentro de seu alicerce emocional que simplesmente DESMORONA, ou seja, ela não entende de onde vem, e geralmente associa o lugar que acontece o pânico, este fenômeno existencial, como a mola propulsora de sua imobilidade e falta de controle da situação.

 

O estresse também está sendo cotado nesta experiência referente ao Pânico.

 

O termo estresse foi emprestado da engenharia e significa literalmente: “O peso que uma ponte suporta até que ela quebre”, ou seja, a pessoa sustenta em seu alicerce existencial uma responsabilidade acima daquilo que ela possa suportar e aí seu alicerce, a ponte entre ela e as relações no mundo trincam, quebram, formando assim grandes veios em suas manifestações vividas. Sente-se biologicamente viva e existencialmente morta, parece que dentro de si habita um inquilino imaginário chamado “MEDO”.

 

 

As pessoas declaram inúmeros sintomas:

  1. Palpitação (sentir o coração batendo forte ou taquicardia). Sente que seu coração vai pular pra fora;
  2. Sudorese (suor intenso, no corpo e nas mãos);
  3. Falta de ar (sensação de sufocamento);
  4. Sensação de estranheza (não se reconhece como sendo ela própria);
  5. Náuseas e constante desconforto abdominal e/ou intestinal;
  6. Irritabilidade constante;
  7. Insegurança para tomar simples decisões;
  8. Medo de perder o controle da situação;
  9. Formigamento nas mãos e nos pés;
  10. Quer encontrar um lugar seguro, um esconderijo para se proteger, e que geralmente é a sua própria casa.

DO PONTO DE VISTA NEUROLÓGICO, O QUE OCORRE COM A PESSOA?

  1. Ao ver um estímulo que a ameace (por ex: um avião e/ou prever que chova, e/ou um pensamento trágico e pessimista);
  2. Este “ver”, ou “prever”, ou “pensar” chega ao córtex cerebral, sendo reconhecido como algo ameaçador;
  3. Essa mensagem passa pela estrutura cerebral o “hipotálamo” onde ocorre, através da ansiedade, a liberação de adrenalina e, isso promove as reações psicológicas de medo, susto, aflição e inquietude;
  4. As informações impressas pelo hipotálamo vão para as glândulas supra-renais que liberam um hormônio chamado cortisol, que é responsável pelas manifestações físicas de medo, tremor, sudorese, etc...

Desse modo, a comunidade médica, aponta como uma das razões da Fobia, localizando-a na raiz biológica que é desencadeada, pelo desequilíbrio de alguns neurotransmissores. O candidato mais votado a SEROTONINA, que é uma das substâncias responsáveis pela comunicação entre neurônios, porém é um grande enigma para a ciência, o que impulsiona essa raiz biológica. O uso exclusivo dos medicamentos antidepressivos, ou ansioliticos por si só, não ajudam a pessoa recuperar-se completamente, se faz necessário, portanto, uma psicoterapia.

 

E é nesse contexto que a psicoterapia, na Abordagem Fenomenológico-Existencial, revela sua contribuição na medida em que, não se propõe a enxergar o homem como um mero conjunto de órgãos, uns dissociados dos outros, mas sim considerar sua experiência subjetiva que vem imprimindo sua história de vida.

 

A tarefa terapêutica visa contemplar, ajudando a pessoa a clarear seus entrelaçamentos existenciais que a fizeram eleger os cenários: “avião”, “chuva”, “shopping”, etc...

 

A maioria das pessoas não se dá conta do que as impulsiona para essas “armadilhas”, mas percebem que não tem um fundamento real para escolher seus medos. Geralmente essas situações são eleitas, pois as pessoas iniciaram sua “crise fóbica”, nessas condições; ou dentro do carro, ou do elevador. Por outro lado, outras pessoas declaram que nunca sofreram frente a essas situações.

 

O medo experienciado está atrelado a uma dimensão existencial, cujo medicamento, por si só, não dá conta. É necessário aliar a esta experiência uma análise existencial mais profunda.

 

A grande contribuição da Fenomenologia é o de se propor a fundamentar uma Ciência da Existência, que não retira os conhecimentos Empírico-Científicos da Ciência Natural, mas que busca articular o homem nas suas dimensões existenciais, contemplando os sentidos escondidos no pré-reflexivo.

 

Nossa existência é CORPORIFICADA. Nós não temos um corpo, nós somos UM CORPO. O desamor a si próprio é um sentimento que sabe que o corpo tem alma. O medo é o grito silencioso desse desafeto.

 

 

CARACTERÍSTICAS NO MODO DE SER E PERCEBER DA PESSOA COM EXPERIÊNCIA FÓBICA

  • A pessoa declara a necessidade de perseguir um projeto existencial, para provar aos outros que é capaz, que é competente, que é prestativa e que precisa ser aceita e constantemente reconhecida.
  • Sua auto-estima está depreciada; é muito exigente consigo mesma e com os outros. O excesso de responsabilidade que expressa no seu modo de ser no mundo, com as pessoas, torna-a crítica e julgadora, expressando que os outros é que são irresponsáveis e não a reconhecem.
  • Tem a necessidade de controlar as pessoas e as situações, não confia em seu próprio “taco”, e é insegura nas decisões mais simples.
  • Tende a carregar o mundo nas costas, a família, o trabalho, a relação afetiva.
  • Quer agradar “Gregos e Troianos”, tem medo de tomar uma posição, se decepcionar com os outros e errar em suas atitudes, por isso não arrisca, se encolhe no mundo como uma tartaruga, se encolhe frente ao perigo.
  • Em seu relato experiencia perdas significativas principalmente no nível afetivo.
  • Tem um súbito espanto, no transcorrer da vida, pois se decepciona com as pessoas que conhecia e sente um estranhamento perdendo confiança em si e nos outros.
  • Descobre que não ocupa o lugar afetivo, que imaginava na vida dos outros.
  • Perde a sua bússola interior que lhe orientava para um projeto existencial; descobre que a vida toda foi persuadida, usada e não se dá conta que permitiu essa condição para ser “amada”.
  • É sensível e, portanto percebe a linguagem intencional do outro, distingue quando o outro se pronuncia com legitimidade ou não e, por isso, se decepciona com facilidade, pois descobre atitudes nos outros que não esperava. A experiência do estreitamento perceptual faz com que essa pessoa eleja situações fóbicas, quando na verdade o medo é de lidar consigo própria, diante da realidade posta em questão na sua vida.

Essas características existenciais foram extraídas dos atendimentos com pessoas que apresentam no seu modo de Ser O MEDO. Mostram a emergência de se propor um atendimento, que contempla escavar o que motivou o medo, não os sintomas, mas sim suas origens.

 

Este texto se propõe a realizar, de maneira ainda muito simples a aproximação de que a Ciência Médica não dá conta sozinha dos chamados “Fenômenos da Acontencialidade”.

 

O MEDO

 

Eles ocorrem no modo de ser fóbico. Cada acontecimento relatado pela pessoa fóbica denuncia o dado originário que sustenta os seus entrelaçamentos existenciais. Eleger o avião, o elevador, o tumulto evidencia uma história individual vivida em vários espaços e tempos; passado e futuro se interligam abandonando o tempo do presente, fazendo a pessoa experienciar uma estranheza no próprio ser, pois a fronteira do real ultrapassa a fronteira do imaginário, onde o passado já se foi, o futuro está por vir, e o presente revela o vazio existencial vivido. A vida monta um palco que revela um cenário mais complexo por detrás das cortinas. Interessante notar que, a mesma substância ejetada pelo cérebro em situações de medo e de curiosidade é a adrenalina, o que varia é a mensagem que o cérebro envia ao organismo e a quantidade da substância.

 

Quanto maior, mais perigo oferece a situação. O medo pode paralisar ou provocar diante do perigo, mas o botão que aciona esta escolha é o existencial, pois o homem é o único autor e interprete de sua vida. Portanto o modo como nós interpretamos e compreendemos a solução ou a importância diante do medo, poderá nos lançar ou abortar o nosso projeto de vida.

 

Cabe-nos uma resignificação de nossa vida, pois a tríade “mente-corpo-espirito” é mais forte que qualquer substância bioquímica, eles transcendem e desafiam os conhecimentos científicos.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

POKLADEK, D. D. Existência e Saúde – UMESP – (2000).

MACIEL, S. M. Corpo Invisível – uma nova leitura na filosofia de Merleau Ponty. EDIPURS – Porto Alegre (1997)