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Uma reflexão Fenomenológico-Existencial na prática do profissional da saúde

Profa. Ms. Danuta Dawidowicz Pokladek

Psicóloga Nadima Cibele Haddad

 

Paulo Freire (1990) referindo-se ao compromisso do profissional da saúde:

 

“O compromisso do profissional da saúde só é válido se for carregado de humanismo e    é conseqüente se for fundado cientificamente”

 

A Fenomenologia, como método cientifico, se propõe a recolocar o homem na condição existencial, buscando compreendê-lo na sua cotidianeidade, aceitando seu modo constitutivo de ser no mundo, na relação que ele estabelece com os outros.

Deste modo elegemos o filme “Patch Adams – O Amor é contagioso” para retratar e resgatar a nossa preocupação com a Ciência e a prática do profissional da saúde.

 

O pensamento que no impulsionou para este evento foi o do filósofo alemão Martin Heidegger (1949).

 

“Ser é ouvir e corresponder aos apelos do ser”. ( Ser e Tempo)

 

...E os pensamentos de (Tavares 2001)

“Sabemos que quem cuida não salva nem abandona, acompanha

       Somos parceiros existenciais de quem nos propomos acompanhar”.

 

Estas duas colocações retratam o quanto nos é óbvio teoricamente estas posições frente ao Cuidar do Humano e ao mesmo tempo, o quanto nos é distante praticá-la fielmente em nosso cotidiano.

Na verdade estamos  descuidando de nós mesmos. Vivemos como motores e/ou máquinas ambulantes que sabemos produzir tecnicamente e acessar todas as “TECLAS START” mas não nos damos o direito e o prazer de acionar a tecla “PAUSE”, para refletirmos sobre nossas posturas que revelam e denunciam nossos apelos, nossos gritos silenciosos, nossos afetos e desafetos. Adentramos na massificação social e não nos é mais precioso, o nosso espírito humano.

Este breve texto é um apelo emergencial para nos darmos conta do porque, para quê e em nome do quê, elegemos ser profissionais da saúde.

Sem essas respostas a vida se torna opaca e perde o seu sentido existencial. Não devemos esquecer que a primeira pessoa que conhecemos ao nascer e ao morrer é um profissional da saúde. Ele é o primeiro e o último contato dessa trajetória chamada vida. Se não percebemos este inédito episódio, perdemos a referência do que somos e o que representamos na vida do outro.

Para isso, nos propomos fazer algumas reflexões que mostram possíveis caminhos na prática do cotidiano.

A vivência diária dos serviços de saúde, coloca os profissionais em contato com os acontecimentos que inicialmente chamam atenção e os chocam, mas acabam tornando-se rotina.

Quando os pacientes procuram os serviços da saúde e suas falas são de dor, medo e insegurança, elas são incorporadas a rotina do trabalho e muitas vezes são banalizadas. A doença constitui para o homem uma ameaça de dor, invalidez, até a morte. Desenvolve-se por isso um sentimento de insegurança e de necessidade de apoio que, reedita a situação da criança medrosa que procura a mãe-médico ou profissional da saúde, em busca de apoio.

Ás vezes esses profissionais não compreendem esses aspectos. Acostumados a ver e palpar, não acreditam no que não pode ser percebido pelos órgãos sensoriais.

Não podemos esquecer que profissionais da saúde lidam com as pessoas em seus momentos mais difíceis e para recebê-los com uma atitude de cuidar se faz necessário olhar para a pessoa além da doença ou hipótese diagnóstica. Ser um profissional da saúde é uma convocação para a relação. Um ambiente acolhedor pode minimizar o paciente que já chega ansioso. É na recepção que acontece o primeiro contato.

Um dos elementos importantes da relação com o outro além da observação é a escuta.

Escutar alguém implica em certo sentido uma abdicação de si.

O público leigo não tem condições de julgar o conhecimento técnico dos profissionais, ele observa o modo como afeta este atendimento.

Percebemos que hoje não bastam apenas boa educação e vestir-se bem. É necessário jogo de cintura, bom relacionamento interpessoal, saber trabalhar em equipe, gerenciar conflitos ter paciência e simpatia.

Todos os integrantes da Instituição Saúde, estão coligados a uma teia de reciprocidade. Desde o diretor ao porteiro, todos devem estar atentos ao relacionamento interpessoal.

Assim ao invés de arrancar vigorosamente a Humanidade do Ser, tornando-o profissional, é emergencial imprimir nos currículos esta mesma humanidade para não deixar anestesiar o modo cientifico de ser.

 

Segundo o médico austríaco Biswanger (1949)

 

“No amor e apenas neste, a pessoa é capaz de experienciar como uma totalidade, a finitude e o infinito, o fato e a essência ... Nele se realiza o verdadeiro nós, no qual cada parceiro é criador e simultaneamente ativo e passivo, masculino e feminino...Esta inconcebível e inexplicável qualidade de amor é um mistério que se realiza de amar e ser amado (In Forghieri – Fundamentos para uma Psicologia Fenomenológica, pg 38)

Todos somos capazes de amar e nos sentirmos pertencentes a esta relação dual, que efetiva a autêntica relação EU-TU. É nesta possibilidade que o filme Patch Adams – O Amor é Contagioso, que nos faz repensar a retornar a essa condição humana.

“O Profissional da Saúde é gente cuidando de gente”

 

Como disse Patch Adams em seu filme ao suplicar a permissão de poder ser um bom médico para a comissão “cientifica”.

Não se deixe ignorar o milagre da vida! Mantenha o êxtase pelo glorioso mecanismo do corpo humano, deixe que este seja o foco de seus estudos e não a guerra por notas que não lhe dará nenhuma idéia do tipo de profissional da saúde que você será.

Não espere até chegar a aula para recuperar a humanidade, aprenda a entrevistar agora, converse com estranhos, fale com seus amigos, atenda os enganos e cultive a amizade dessas pessoas incríveis que podem lhe ensinar.

Todas as enfermeiras elas sim, lidam diariamente com as pessoas, elas navegam por sangue e merda. Elas têm um tesouro de conhecimento para partilhar com todos.

Os professores de respeito também, aqueles que não morreram da cintura para cima.

Partilhe a compaixão e se deixe contagiar, mergulhar na humanidade.

Eu quero ser um profissional da saúde do fundo do meu coração!

Eu quero ajudar o próximo e compartilhar de sua vida, quero chorar e sorrir com a equipe de meu trabalho.

A comissão médica não pode controlar o meu espírito nem me impedir de aprender.

Todos nós temos uma opção; podemos ser colegas de profissão apaixonados pelo o que fazemos, ou ser intrusos declarados nestes horizontes humanos. Mas ainda a melhor opção é deixar-se mergulhar na humanidade, ouvir e atender aos apelos do ser para continuar “Cuidar do Humano”.

 

 

Referência Bibliográfica

 

HEIDEGGER, M. (1997), Ser e Tempo, Petrópolis – Editora Vozes 6ª Edição

 

POKLADEK, D. D. (2002), Cuidar do Humano, SP – Alpharrabio Edições

 

BALINT, M. (1984)

      O médico, seu paciente e a Doença 

      SP – Livraria Atheneu